Aos
46 anos e com vasta experiência na Polícia Militar do Rio Grande do Norte
(PMRN), o major Walter Lucio Monteiro dos Santos se prepara para embarcar, em
breve, para o Sudão do Sul, país localizado na porção centro-norte da África. O
potiguar foi designado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para uma missão
de paz após um intenso processo de seleção que aconteceu no ano passado.
Ainda não há uma data específica para o início dos trabalhos – o primeiro do
tipo em 25 anos de carreira do militar – , mas há uma expectativa de que o
major viaje para o país africano no próximo mês de junho.
WALTER LUCIO MONTEIRO, MAJOR DA PM DO RN, SONHAVA COM PARTICIPAÇÃO EM MISSÃO DE PAZ DESDE O INÍCIO DA CARREIRA NA POLÍCIA
No Sudão do Sul, major Walter deverá se juntar a
militares de outras partes do mundo para atuar na segurança de campos de
refugiados e na reconstrução social do país, que convive com sérios problemas
causados por conflitos e disputas derivadas de diferenças políticas e questões
econômicas. “Meu cargo é o de Oficial de Polícia Individual [IPO, na sigla em
inglês]”, conta o major.
“Iremos trabalhar, primeiramente, na segurança
desses campos, por meio de patrulhamentos, mantendo a paz e a ordem entre as
diferentes etnias que convivem ali. É uma missão desarmada e voluntária. Os
campos de refugiados reúnem milhares de pessoas de várias partes do Sudão do
Sul, especialmente, dos rincões. São pessoas que sofrem perseguições e recorrem
à ajuda da ONU”, afirma o militar.
O trabalho deve se concentrar na capital, Juba,
onde está a maioria dos refugiados. Mas grandes cidades do interior também
registram pessoas nessas condições. De acordo com major Walter, as ações serão
focadas, ainda, na resolução de conflitos nos campos. “As diferenças de
religião e cultura nesses locais, muitas vezes, são resolvidas no embate. E aí,
o policial chega com a expertise para apaziguar esses lugares”, relata.
Já próximo de embarcar, o major relembra que a
preparação não foi fácil. A primeira parte, inclusive, começou há quase dez
anos, em 2013, com aulas de inglês. “Quando fui aprimorando o idioma, fiquei
mais confiante e fui atrás dos procedimentos burocráticos para que a coisa
pudesse acontecer”, conta.
A participação de policiais militares
brasileiros na ONU se dá por intermédio da Inspetoria Geral das Polícias
Militares (IGPM), órgão do Exército Brasileiro que faz o controle de convocação
e treinamento de policiais militares (a PM integra as forças auxiliares e de
reservas do Exército, segundo a Constituição Federal) para as vagas de
voluntariados nas missões de paz.
“O Exército envia para as polícias militares do
Brasil a oferta de vagas e eu me voluntariei no ano passado”, detalha o major.
Antes da seletiva, os candidatos fizeram um Estágio Preparatório de Missões de
Paz (EPMP), no Rio de Janeiro. “Passei dois meses, de outubro a dezembro do ano
passado, morando no quartel da Vila Militar do Rio, com todas as dificuldades
inerentes à vida militar”, afirma.
Nesse período, o major e os demais militares que
passaram pelo estágio, tiveram aula de simulação de atentados, emboscada,
conversação e resolução de conflitos com populações locais. Durante todo o
curso, em um cenário descrito por ele como “muito realista”, o único idioma
permitido era o inglês, língua oficial do Sudão do Sul.
Após os dois meses de estágio, o militar estava
apto a concorrer a uma vaga para ir à missão, mas ainda precisava concorrer à
segunda fase da seletiva, com a realização de um conjunto de provas. Major
Walter conta que, ao final do processo, 34 aprovados receberam o selo de
aptidão para missões de paz. Destes, cerca de 14 irão para o Sudão do Sul. Os
demais devem aguardar até dois anos por um chamamento.
Se depois desse período, não forem convocados,
precisarão recomeçar o processo, caso queiram concorrer a uma nova vaga. Além
do major Walter, outros dois potiguares foram aprovados para missões de paz da
ONU: o major William e o capitão Montenegro, que já participaram de outros
eventos do tipo. De acordo com parâmetros do Exército, a prioridade para
convocações é dada àqueles que ainda não passaram pela experiência, como é o
caso do major Walter.
Realizado com a conquista, ele afirma que
tem lidado bem com a ansiedade, às vésperas da viagem. “A ansiedade sempre
bate, mas é mais controlada, afinal, já são 46 anos de idade e 25 de serviço”,
garante. O mais difícil mesmo, segundo ele, será lidar com a saudade da
família.
“Meu filho tem 10 anos e minha
filhinha, um ano e meio. Eles são o que eu tenho de mais precioso. Graças a
Deus, sou casado com uma pessoa muito parceira. Minha esposa é fantástica e
sempre compreende minha rotina. Estar longe de casa é difícil. Tem horas em que
a solidão chega e a gente chora mesmo, para extravasar. E dessa vez, não vai
ser diferente”, declara.
MAJOR SONHAVA COM
MISSÃO DE PAZ
O major Walter Lucio Monteiro dos
Santos ingressou na PMRN em 1997, após ser aprovado em concurso público. A
trajetória, nesses 25 anos, é marcada por passagens pela Corregedoria da
Polícia Militar, na área de assessoramento jurídico, disciplinar e também
na área operacional. O major teve passagens pelo comando do Policiamento
Ambiental e pelo Comando de Trânsito, além de atuações com Rádio Patrulha.
“Tive uma participação, que eu considero muito importante na minha carreira, na
Força Nacional de Segurança Pública. Foi uma experiência riquíssima.”,
registra. Nessa época, major Walter atuou em várias regiões do Brasil. Foi
chefe de policiamento durante a construção da Usina de Belo Monte, no
Pará, trabalhou com populações indígenas (Guaranis e Kayapós), em Dourados
(MS), além de quilombolas e garimpeiros, no Amazonas e no Pará.
Ainda pela Força Nacional, o militar atuou em dois dos mais importantes eventos
do esporte mundial: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Minha
atuação na Copa do Mundo durou quase dois meses. Trabalhei no policiamento de
choque no Rio Grande do Sul. Foi indescritível. Assisti a grandes momentos do
futebol mundial”, destaca.
“Depois disso, tive a satisfação de ser convidado para ser o coordenador
de segurança das instalações da Vila dos Atletas, no Rio de Janeiro, para as
Olimpíadas. Tive a honra de ver, a três metros de distância, Messi, Usain Bolt,
[Novak] Djocovic, Daniele Hypólito, Neymar... Foi um trabalho muito bem feito,
porque houve a participação de muitas pessoas e todos estavam empenhados em
fazer o melhor evento e desmistificar o nosso complexo de vira-lata. Fizemos um
acontecimento grandioso e seguro. Considero esse o fechamento de ouro da minha
participação na Força Nacional”, acrescenta, orgulhoso.
As conquistas são, na verdade, a realização de um sonho que o militar tinha
desde criança. “Meu pai também é policial militar e, praticamente, cresci
dentro da instituição. Ingressar na PM sempre foi meu sonho desde menino.
Graças a Deus, consegui. Mas não foi fácil”. A concretização do primeiro sonho
veio acompanhada de um segundo desejo, que ele vai realizar agora.
FONTE – TRIBUNA DO NORTE
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